sexta-feira, 13 de agosto de 2010

"pensamento solto"

Hoje eu e uma amiga tivemos uma conversa não muito comum. Falávamos do "sistema carcerário nacional" e confesso que a cada dia que passa eu fico mais assustada. Fui assaltada recentemente (pela 3ª vez), e você deve tá se perguntando "o que o sistema carcerário nacional tem haver com isso?". Bom, diretamente, ninguém tem haver com nada, mas vamos olhar tudo do ângulo de uma reação em cadeia.
Todos os indivíduos que me assaltaram eram relativamente jovens e acredito que a maioria de vocês, leitores, já devem ter passado por uma situação dessas, de ver uma pessoa possivelmente mais nova que você, apontando uma arma ou qualquer outro objeto que ameace, tomando seus bens adquiridos com tanto amor e carinho :). Aí mais uma vez, você deve tá se perguntando "por quê ela tá falando disso?". O sistema é um só. Querendo ou não, nós fazemos parte dele. O cara que assalta, o policial que o prende, a cadeia que ele é dirigido, a droga que ele compra, tudo faz parte de um único sistema em que, vítima ocupa lugar de opressor e opressor ocupa lugar de vítima. Agora quero chegar no ponto principal:
Quem já assistiu o programa mais "carniceiro" que existe na televisão brasileira: SE LIGA BOCÃO, já deve ter visto as condições em que vivem os presos atualmente. Mas aí, tem gente que fala "bandido safado tem que passar perrengue e virar mulher de presidiário mesmo." (palavras de pessoa conhecida minha), e eu fico horrorizada, porque apesar das vezes em que fui assaltada eu desejar a mesma coisa, analisando friamente, não tem sentido. Os presídios deveriam ser como uma forma de oferecer a os indivíduos presos, uma maneira de se regenerar, mesmo que o meio em que tenham sido criados não seja saudável, que o mundo aqui fora seja uma escalada difícil, e que o passado condene. Não excluo a possibilidade que pessoas podem sim se reintegrar sem que seja necessário passar por um clube de terror.
Lógico que as coisas não são tão simples assim, isso pode ser apenas um esboço de uma mera utopista, mas é preciso concordar que fazemos parte de uma tragédia social, em que somos atingidos por tabela. Uma pessoa que passa por um presídio em que não oferece condições mínimas de uma sobrevivência, é impossível que ele saia querendo ser o mocinho da história, ajudando velhinhas a atravessar a rua e doando cesta básica para instituições carentes.
Aí, você vê um menino que já nasceu num lugar onde quem é o BOM, é quem rouba, mata, vende droga, acaba roubando um celular de alguém que tá voltando da escola às 8:30 da manhã em plena aula de recuperação (como foi meu caso), vai preso por seiláoquê, entra num presídio para menor infrator, que vão ter vários guris da mesma idade, mais novos e pouco mais velhos, que vão ensinar que quando ele sair de lá, ele vai ter que aprender a roubar carro e assaltar banco pra crescer na vida, e ele vai sair de lá TE odiando, porque ele nasceu num mundo onde a mãe dele teve que dividir o alimento com mais 8 crianças, o pai dele não tem emprego, o vizinho é traficante, o irmão morreu porque comprou droga e não pagou, a irmã virou prostituta, e UM entre eles, ainda tenta estudar, enquanto na sua escola os professores faltam nas aulas ou malmente vão, não tem merenda porque a verba foi desviada e ele tem que passar por um bairro onde a vida dele vai estar custando menos de 5 reais. E ai ele vai continuar NOS odiando, porque ele vai voltar pra esse mundo que as oportunidades são escassas, principalmente se esse alguém acabou de sair de um presídio por qualquer motivo, e ele vai voltar a assaltar, a vender droga, a matar, eporaívai.
Agora, depois disso tudo, ainda tem gente que acha que não estamos interligados. E você deve tá se perguntando também "mas a culpa não é nossa". Realmente não é, diretamente. A culpa é de quem a gente elege pra tá lá na frente brigando por nossos direitos. Quem os coloca lá? A culpa é de um sistema falido, que insiste em uma hierarquia onde só existem déspotas; a culpa é de quem está lá dentro, vê o errado e fecha os olhos, porque afinal de contas, assim como eles, somos apenas algumas pequenas gotas, lutando contra o mar inteiro.
Por hora, vamos pedir muita sorte a Deus pra caminhar por aí, torcendo pra que ao menos, continuemos vivos.

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